Durante a minha infância, na idade que a gente sonha em ser super-herói, eu sempre sonhava ser a
Mulher Maravilha, enquanto boa parte das minhas amiguinhas sonhavam em ser um personagem de conto de fada como a
Bela Adormecida ou
Cinderela. Depois dessa fase, a minha inspiração passou a ser a
Lois Lane. Mulher independente, bonita, inteligente e que para completar, tinha um
Super-Homem lindodeviver louco por ela. Me parecia o sonho perfeito de qualquer mulher...
Eu conhecí o meu marido entre às 5 e 6 horas da manhã,
nesse hotel durante um fim de semana. Não, não estávamos hospedados. Éramos empregados e fazíamos limpeza na parte das piscinas das 6 às 9hrs da manhã. Esse foi um dos meus ganha-pão durante a minha vida de estudante na Holanda. Na verdade, não foi só um dos meus ganha-pão. Foi também da minha mãe, da minha irmã Kika e como já disse, também do meu marido.
Nunca imaginei encontrar o meu futuro marido às 5hrs da manhã e naquelas condições.
Eu trabalhava também de noite num restaurante Grego como garçonete há 3 anos e chegava em casa estourada depois da meia-noite. Tomava um banho e me jogava na cama sem sequer me olhar no espelho, levantava às 5hrs, me vestia, amarrava o cabelo do jeito que fosse e me mandava pro trabalho do hotel sem me dar o trabalho de desamassar a cara. Perdí as contas de quantas vezes notava que ainda estava com maquiagem borrada no rosto e que minha máscara à prova d’água tinha virado rímel. E se isso tudo não bastasse, nós ainda tínhamos que vestir um uniforme de limpeza
horrorendo pra trabalhar. Era uma calça comprida da cor azul turquesa-bem-cheguei que mais parecia um saco de pano com elástico na cintura e uma blusa listrada do mesmo azul com branco. Parecia uniforme de prisioneiro com a única diferença de não ter um número estampado nas costas. Se nem a Gisele Bundchen ficaria atraente naquelas roupas, quem diria nós, pobre normais como eu e o meu marido. Ainda bem que o amor
é cego!...
Se bem que, naquelas alturas, eu não estava nem aí para homens e relacionamentos. Esse era o ano (1997) em que a minha vida finalmente parecia estar tomando a direção certa. Em setembro eu estaria começando na faculdade (HEAO in Den Bosch) e eu (22 anos) estava finalmente com a cabeça (mais) no lugar. Já fazia também 2 anos que estava sem namorado, por que tinha tido uma péssima experiência com um ex-namorado, um Ioguslavo fugitivo de guerra com que eu tinha namorado 2 anos.
Cheguei a conclusão que eu só podia estar muito carente e 'piriquetchi' para ter namorado aquele cara naquela época, uns 9 meses depois da minha chegada à Holanda. O cara não era feio, era
ho-rrí-vel e para completar, como eu descobrí depois, não valia um ponto de supermercado!
Tanto que, ainda me dá um certo consolo lembrar que o traí umas 2x, por que ele, no final das contas, acabou merecendo seus belos pares de chifres.
Enquanto eu namorava ele, eu também namorei um Iraniano, que por sinal, sabia do meu namoro com o tal Ioguslavo e mesmo assim, aceitava aquela situação. Nunca entendí como ele aceitou aquilo, mas naquelas alturas, lá pelos meus 18/19 anos, eu me permitia cometer esses tipos de erros e passar por essas experiências.
O Iraniano, como (quase) todos de seu país de origem, se chamava
Ali e era uma cara bem legal. Também era exilado (político) na Holanda e tinha uma mente bem aberta e emancipada para quem era de origem mulçumana. Eis mais um motivo pelo qual eu me surpreendí ele aceitar ser ‘o outro’. Eu notava que ele gostava mesmo de mim, por isso não acredito que tenha sido uma farsa dele ser mente aberta, mas também não tinha planos de tirar as provas dos nove nessa história e acabei terminando com ele.
Acho que a minha consciência tinha voltado a funcionar, mas... não foi por muito tempo.
Em 95, eu fui visitar/rever um conhecido meu de Belém que estava morando em Londres. Fui passar 4 dias lá e já no primeiro dia rolou mais um belo par de chifres na cabeça do meu ex.
Acho que foram esses 4 dias fora da Holanda que fizeram eu finalmente sacar que o meu relacionamento com o Ioguslavo já tinha durado mais do que devia.
E logo depois, no verão daquele mesmo ano, eu fui passar férias pela primeira vez no Brasil desde a minha chegada na Holanda, ou seja, morava há 3 anos na Holanda. Viajei sem ter me despedido do meu ex. Ele queria que eu fosse atrás dele, achava que era o meu dever. Viajei e quando eu mal tinha pisado em solo Brasileiro me virei para a minha mãe e disse que o meu namoro com dito-cujo tinha chego ao fim (mesmo sem ele saber).
Durante aquelas férias rolou um caso com o meu amigo Zé e quando eu voltei à Holanda, já com a cabeça no lugar e cheia de planos, eu decidí que estava na hora de sair do meu inferno e o primeiro passo, era terminar oficialmente com o ex-Ioguslavo.
Quando eu acabei, eu me lembro que me sentí super-aliviada e tinha uma vontade enorme de abrir uma garrafa de champagne! Porém, a mimha felicidade foi de curto prazo, por que o meu ex. pirou de vez e acabou me aprontando uma série de coisas desagradáveis desde então. Foi por isso que durante os dois anos seguintes eu não queria saber de namorados, mesmo que não tenha faltado oportunidades como um marroquino, diga-se de passagem: muito bonito, mas por quem eu não correspondia os sentimentos da mesma forma que ele e acabei tirando o meu time de campo bem na hora do beijo.
Nessas alturas, eu já pensava que
“se você já sabe de antecedência que aquele não é a pessoa certa pra você, pra que tentar?”E foi assim que eu fui levando a minha vida até 97. Trabalhando, estudando e com o foco no futuro até que em setembro de 97 eu me apaixonei por Amore numa versão moderna da Gata Borralheira, onde até o princípe encantado fazia limpeza...
Amore me conquistou no tempo, na paciência. Por mais que eu já sabia estar apaixonada por ele desde setembro, foi somente em dezembro, no dia de Natal, que nós começamos a namorar. O selo do romance foi um simples cartão de Natal contendo um poema
lindodivinoemaravilhoso de sua autoria e que anos depois foi o enredo da nossa festa de casamento.
Juntos nós construímos a nossa vida. Ele sempre me apoiando nos meus estudos e na minha carreira. Foi junto comigo pra Lisboa quando eu fiz meu estágio de 6 meses lá. Logo em seguida foi comigo para o Brasil quando o meu pai foi internado e veio a falecer. Voltamos e depois de 1 ano e meio, após a minha formatura e de ter conseguido o meu primeiro emprego, alugamos uma casa e fomos morar juntos. Muitas conquistas profissionais depois disso e 7 ½ anos mais tarde realizamos um casamento de conto de fadas num castelo medieval. Realmente, um dos dias mais felizes da minha vida... Em seguida, veio a conquista do nosso próprio ‘castelo’, ou melhor, a nossa casa, uma mega-viagem de sonhos para a Nova Zelândia e Bora-Bora e agora um filho
lindodivinoemaravilhoso.
Sinceramente, eu não acredito em contos de fada. Também não sei se existe o
“Happily ever after”, mas, na minha versão
Lois Lane versus
Cinderela, hoje,
eu sou feliz!... :)