sexta-feira, 17 de julho de 2009

Maternidade, carreira e se esqueceram de mim...

O dia começou bem! É sexta-feira (amo, amo, amo!) e começou com uma mega-reunião às 8.00hrs da manhã (cedo, cedo, cedo!) com chefe do meu chefe, e outras pessoas importantes para explicar algo complicado como arquitetura de sistemas de uma forma simples e convencê-los como alcançar o objetivo de estratégia da empresa de forma mundial investindo (mais) dinheiro numa época de crise e que todo mundo só fala em cortes e apertos de cinto. É, complicado assim!

Ah, mas eu conseguí! E como é bom a sensação quando você consegue o objetivo, nénão? É quase uma convulsão de pura adrenalina! Ha ha!

E tem gente que me pergunta se algo mudou no (meu) trabalho depois da maternidade e/ou se algo ‘prejudicou’ a minha carreira.

Deixa eu dizer que as coisas não são faceis. Não sei se é coisa da Holandeisada ou se acontece também em outras sociedades, mas muitas pessoas aqui pensam que se uma mulher se tornou mãe, que ela prontamente perdeu suas ambições profissionais.
Na minha versão, eu diria que isso depende muito da própria pessoa e que essas idéias não deveriam ser vistas como generalizadas, mas não é assim que as coisas funcionam, não é mesmo?

Eu diria sim, que as ‘coisas’ (sentimentos, raciocínios, lógica e a balança pessoal) mudaram. Por incrível que pareça, uma das últimas coisas que eu esperava da maternidade, aconteceu: eu me tornei uma pessoa mais calma! Mesmo com todo o meu trabalho (em casa ou fora) triplicado, assim como o planejamento e organização de nossas vidas. Mas, essa “calma” (momentanea ou não) foi sim, um presente inesperado!

Na minha carreira profissional eu continuo sendo ambiciosa, mas de forma mais balanceada. Antigamente, carreira era a minha única prioridade e agora a carreira divide espaço com a família, principalmente com o meu filho, já que ele depende de mim (e de Amore). Mas, eu confesso que, quando o filhote está na creche e eu no trabalho, eu não me preocupo com ele. Sei que ele está em boas mãos e também acho que é melhor para ele, por que eu tenho certeza que mesmo não querendo, se um de nós ficássemos com ele em casa em tempo integral, que com certeza o nosso filho se tornaria uma criança mimada! E eu tenho pavor de criança mimada!

Digo também que pelo lado pessoal e social é bom trabalhar. É bom continuar se desenvolvendo, se sentindo útil, ganhar seu dinheirinho, conversar com outras pessoas e discutir assuntos totalmente diferentes de seu ambiente familiar. Mas também não existe nada melhor do que, depois de um dia maravilhoso ou cabreiro no trabalho, você chegar em casa com aquela vontade louca de dar um aperto e um cheiro no seu filho. Parece até que alguém apagou a luz e fechou a porta de todos os seus problemas no trabalho e acendeu a luz na sua casa no momento que você vê aquela coisa fofa olhando pra você com olhos arregalados e surpresos seguido do sorriso banguela mais bonito do mundo!

Isso tudo, como deu pra notar, foi uma mudança gigantesca na minha vida! Eu não era assim, não era mesmo!

E qual foi o “down side” dessa mudança? Bem, não foi na parte emocional. Essa foi a que mais se enriqueceu com a maternidade, mas no lado profissional teve sim o seu impacto como eu dizia antes.

Existe um ditado Holandês que diz “uit het oog, uit het hart” ("longe da vista, longe do coração"). E foi no trabalho que eu sentí o quanto isso é verdadeiro. Eu passei uns 4 meses de licença e nesses 4 meses todos os meus id’s (usuário) em todos os sistemas da empresa (que são uns 25!) foram bloqueados ou até mesmo apagados. Meu nome desapareceu de todas as listas de projetos, atividades e responsabilidades. E teve colega que, para tentar subir as minhas custas durante a minha ausência, tirou o meu nome da lista de responsabilidades (quem o cliente deve contactar) à longo prazo e colocou o nome dele! (Muita cara de pau, por que ele simplesmente queria o meu portafólio!)

Além disso, a nossa seção mudou fisicamente de endereço e eu não tinha mais badge (carteira para entrar na empresa), por que se esqueceram de mim. Também se esqueceram de arranjar um pc-desktop para mim (todo mundo tem um desktop para acoplar o laptop, menos eu!). Sorte foi que, na logística das mesas, alguém ainda se lembrou da minha existência, senão nem lugar para sentar eu teria! E como vocês sabem, quando eu voltei a trabalhar eu passei semanas sem projeto, por que o ‘resource manager’ se esqueceu de planejar a minha volta! Acabei eu mesma indo atrás!

Parece que agora, quase 2 meses depois da minha volta, eu finalmente conseguí conquistar o meu espaço de novo e o ‘mundo’ se lembrou da minha existência no meu trabalho. Mas isso tudo só indica que na minha opinião, a combinação da maternidade e carreira juntos ainda é tabú, até mesmo num país desenvolvido que se diz de “1º mundo” como a Holanda!...

4 comentários:

Marcia-Rotterdam disse...

Desenvolvido??? Eu já disse e repito isso umas 100 vezes, aqui na Holanda eles desvalorizam a mulher no trabalho, eles provavelmente pensaram que você não ia aguentar o tranco e que você ia jogar a toalha. Rá! Quebraram a cara. Não penso que nos EUA é assim, até no Brasil não é assim, certamente nos países ecandinavos não é assim. Aqui mulher com filho é para trabalhar umas 20 horinhas por semana ou coisa assim.
Eu morro de rir quando alardeiam a tão famosa independência da mulher holandesa.

Claudinha disse...

lindo post, ta virando minha idola

Alice disse...

Well, eu sempre tive filho aqui na Holanda e o mínimo que eu trabalhei foram 24 horas semanais, com uma média de 36.
54% dos meus colegas são mulheres, 90% das quais têm filho(s).
Pode ser que a saúde seja diferente...

Holandesa disse...

Márcia - Rotterdam,
Por isso que eu escreví "num país desenvolvido que se diz.."

Alice,
Acho que também deve haver diferença entre os setores. Geralmente os da Saúde, Educação e turismo são dominados pelas mulheres. Já no meu setor, TI, mulher é a exceção, não a regra.
Acho que isso também faz muita diferença como a maternidade é vista.
E na minha área/função atual, o mínimo que se consegue trabalhar é 4 dias (eu trabalho 4 1/2). Menos do que isso não vale à pena para a empresa por que o meu envolvimento acaba "atrapalhando" em vez de contribuir, já que os outros colegas dependem de meu 'input'. E é aquela velha história, na hora do prazo de entrega de um novo sistema nnguém tá nem aí para a minha licença ou se eu trabalho menos. Business is Business!