Um dos grandes dilemas da minha vida adulta tem sido combinar as minhas ambições de carreira internacional com a minha vida emocional e privada.
Quando pinta uma oportunidade no trabalho de fazer algo em outro país, principalmente num país que me agrada, eu só falto dar pulinhos de felicidades. Amo viajar, conhecer novas lugares, culturas, socializar com outras pessoas, aprender algo novo. Mesmo que, a oportunidade envolva trabalho pesado e horas extras acima da média da carga horária, eu não me importo. Enquanto para muitos é um sacrifício, para mim é que nem festa de criança. E eu fico entusiasmada com a oportunidade até a véspera da viagem. Por que quando chega a hora de arrumar as malas, o outro lado da faceta vem à tona.
Eu sou uma pessoa de sorte. Pelo menos é assim que eu considero a vantagem de ter a minha família morando por perto. Também nunca tive o lance do relacionamento à distância. Conhecí Amore quando já morava 5 anos na Holanda e desde então, sempre estivemos juntos em todas as paradas.
Com exceção, é claro, dessas viagens à trabalho. E deixa-me dizer uma coisa: o momento da despedida de Amore nessas ocasiões já era difícil, mas agora com o filhote lindodivinoemaravilhoso ficou mais difícil ainda.
E é aí que mora o meu dilema. É saber que não posso ter tudo o que eu quero, ou melhor, como eu quero ao mesmo tempo. É sempre ter que escolher. E não importa a escolha, sempre vai ter um lado difícil, doloroso. É difícil explicar como a minha carreira me traz felicidade e de como ela me faz uma pessoa mais balanceada. É difícil explicar por que eu quero fazer esses trabalhos internacionais, por que isso me ‘completa’ como pessoa, sem me tornar uma pessoa egoísta nos meus relacionamentos amorosos e familiares. É difícil explicar que a maternidade somente não supre todas as minhas necessidades.
Eu amo trabalhar e não me importo de trabalhar pesado. Venho de uma família de pessoas bastante trabalhadoras e esforçadas. Eu não sei ser diferente e para dizer a verdade, eu não quero ser diferente. E sim, do outro lado da mesma reta, à 180 graus, tem a maternidade. Ou melhor, o meu filho, por que maternidade é conceito muito mais abrangente do que eu sinto. E amor pelo filho é muito mais sufocante e viciante do que um amor de outro tipo, como o amoroso. É o tipo de coisa, um relacionamento amoroso pode chegar ao fim. Dói pacas, mas você segue em frente. Já um filho, não. Como mãe você sempre vai amá-lo e você sempre se sentirá responsável por ele. Não importa a idade.
Essa é a primeira vez, desde que filho nasceu, que me distancio dele. Até a véspera eu até que estava bem equilibrada, relativando bem, mas no domingo, na hora da despedida, eu me sentia a pessoa mais miserável do mundo! Por que que eu tenho que ter este lado profissional egoísta? Seria tão mais fácil se eu fosse como as outras que se contentam com um trabalho part-time ou são mães caseiras!
Chorei na hora da despedida e talvez foi bom que filhote estava dormindo, por que se ele sorrisse ou chorasse por mim seria pior ainda! Passei a viagem de trem até o aeroporto tentando desligar meu cerébro do lado emocional. Por momentos eu conseguia, mas muitos outros, principalmente no avião durante fortes turbulências em que dava medo e quase me fez vomitar (e olha que eu tenho estômago forte para movimentos bruscos!), eu estava emocionalmente ruim.
E eu tentava me concentrar na minha lista de relatividades:
- Só são 5 dias! Passam logo! Logo, logo eu terei filhote nos braços e também estarei me sentindo profissionalmente feliz pelo que fiz...
- Filhote vai crescer e mais cedo ou mais tarde, ele vai seguir o seu caminho. Não posso criar uma vida dependente dele...
- Minha irmã Kika conseguiu passar 3 semanas longe do filhote e do marido dela quando mamãe estava hospitalizada em Belém. Se ela conseguiu passar e superar isso na pior fase de nossas vidas com a doença inesperada da mamãe, com certeza, eu consigo superar 5 dias longe de filhote!...
E vejam bem, eu fazia idéia o quanto doía para a minha irmã estar longe do filho e ainda tendo sérios riscos de perder a mamãe. E como isso aconteceu em maio (2007), foi justamente na época do Dia das Mães. Eu me lembro que dei um perfume da Boticário de presente para as minhas duas irmãs pelo dia, mas a minha irmã mais velha estava lá com o marido e os dois filhos, [eu estava com Amore] e minha irmã Kika estava sozinha. Quando eu dei o presente pra ela, ela caíu nos meus braços e chorou convulsivamente por uns 10, 15 minutos. Acho que foi um dos presentes mais simples que dei para alguém na minha vida, mas foi um dos mais apreciados que já dei até hoje.
Hoje eu sei, uma dízima, do que ela sentiu. E te digo, não é fácil! Mas ela conseguiu. E se ela conseguiu, eu também consigo.
Hoje, estando com a cabeça ocupada no trabalho, eu estou emocionalmente balanceada de novo. Já troquei mensagens com marido, já liguei para casa e escutei a voz do filhote. E logo, logo, nós teremos o momento de reencontro. E esse sim, é um dos melhores momentos de felicidade que alguém pode experienciar na vida...
5 comentários:
Nossa que post emocionante!Tens uma família maravilhosa, um grande tesouro. Chorei muito.
Curta ao máximo tua viagem. Vai dar tudo certo.
Beijocas :)
Ai,ai... fiquei aqui cheia de lágrimas nos olhos lendo sobre a Kika.
Achei a sua 'lista de relatividades' perfeita.. acho que ajuda um pouquinho pensar desse modo nesses momentos.
E quanto à se sentir culpada, não acho que você seja egoísta ou qq coisa do tipo. O seu trabalho te faz feliz e essas experiências extras te completam, acho que você está certa em não deixar as oportunidades passarem só por causa da maternidade.
No meu caso as coisas são diferentes porque minha vida profissional é mais como um complemento, tanto emocional quanto financeiro.
E isso não quer dizer que eu ou você sigamos um caminho melhor ou pior, somos simplesmente pessoas diferentes e temos as nossas felicidades em aspectos diferentes. E é na felicidade que devemos nos centrar. Se você está feliz, se sua carreira e todos os extras dela te fazem feliz, continue neste caminho com todo prazer, não há porque se sentir culpada ;) (mesmo que eu saiba que isso não é algo que podemos controlar :P)
O cantor Seal disse numa entrevista que na casa deles a pessoa mais importante é a esposa dele (Heidi Klum), porque se ela está feliz a família toda fica em harmonia... Gostei muito da maneira como ele colocou isso pois mostra um pouco do que eu coloquei acima. Fazendo coisas que nos dão prazer e nos completam, estaremos felizes e em harmonia e assim podemos repassar isso à nossa família. (P.S.: Contei isso para o Martin para ver se ele se espelha no Seal hahaha)
Não tenho como te dar conselhos, já conversamos sobre isso e eu achei que principalmente depois de ter tido filhos, as viagens internacionais fossem sair do seu sistema, como saíram do meu. E o lance é ir se preparando, porque agora ele é bebê, e quando ele estiver falando e te pedir pra ficar? Beijos, Dri
Menina pare de se culpar :))
Voce se ausentou 5 dias para trabalhar e o trabalho te da prazer, isso nao e motivo para culpa porque voce tambem e uma excelente mama. Suponhamos que voce ficasse doente (bate na madeira 3 vezes) e ficasse 5 dias no hospital...voce tambem se sentiria culpada??? porque sera que so o que nos da prazer nos faz sentir culpa??? Relaxa, tudo esta certo e o lindodivinomaravilhoso esta com um superpaipoderoso :))
beijos
Ju
Um dia seu filhote vai crescer e certamente quando ele souber dessa história vai morrer de orgulho, tanto de você, como do pai dele.
Na vida jamais devemos nos arrepender do que fizemos, apenas daquilo que deixamos de fazer...
Tudo vai dar certo, fique com Deus.
Sucesso hoje e sempre!!!
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