segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Das coisas que já fiz...

Acho que foi no meu sétimo verão na Holanda que eu trabalhei numa 'fábrica' (uma fazenda moderna) limpando vagem.

Os caminhões chegavam e numa máquina gigantesca a vagem rolava na esteira ao encontro 'das nossas mãos' para limpar, lavar ou tirar o lixo entre a verdura.
O dia de trabalho começava de manhã até final da tarde, em pé, ao lado da esteira, não me lembro se usávamos luvas, mas eu me lembro da água gelada, ge-la-da!, o dia inteiro e o dia inteiro em pé. Haja pernas para um trabalho desses!...

Volta e meia, entre pedras, terra, plástico, lata, a gente encontrava também sapos de todos os tamanhos. Uma vez a gente encontrou um coelhinho pequeno, filhote, todo molhado da água gelada e todo encolhidinho. Não sei como ele escapou ou sobreviveu as máquinas, ou a aventura completa, mas eu fiquei morrendo de pena do bichinho, enquanto os outros faziam caretas enojados, eu queria salvá-lo, acalentá-lo, por que o meu coração é pequeno [ou seria, enorme?] quando se trata de animais. Mas, eu não sei que fim [ou começo] ele teve...

Uma vez, também lá, eu fui quase atropelada por um trator do filho do dono. Foi uma confusão, mas nada de mal aconteceu. A mentalidade dos donos era 'hard work, no bullsh*t'. Se alguém chegasse atrazado ou reclamava de algo, eles mandavam embora na mesma hora, nem olhavam pra cara da pessoa. Nem se ela suplicasse para não ser demetida. Eu ví isso acontecer uma vez com uma menina. Não foi legal.

Eu fiz esse trabalho durante as minhas férias. Umas 3 ou 4 semanas.

Durante muitos anos, todas às vezes que eu comprava vagem eu me lembrava daquele emprego. Foi mais um trabalho que me ajudou a pagar os meus estudos, mas eu tenho certeza que muitos dos meus amigos, conhecidos, ex-colegas de turma no Brasil nunca me imaginaram fazendo esse tipo de trabalho. Não [somente] pela vida que eu levava no Brasil, sendo aluna nr 1 da turma, com bolsa de estudo gratuíta, dando aula para colegas de turma e morando numa mega-casa com piscina, mas também, por que nunca, nem ninguém no Brasil imagina alguém (v)indo pra Holanda e parar num trabalho de horta, que venhamos e convenhamos, fica longe de ser uma vida glamourosa que eles associam com uma vida no exterior...

2 comentários:

Jaboticaba Preta disse...

"ninguém no Brasil imagina alguém (v)indo pra Holanda e parar num trabalho de horta, que venhamos e convenamos, fica longe de ser uma vida glamourosa que eles associam com uma vida no exterior..."

Verdade. Essa é a maior diferença entre Brasil e Holanda. Por isso que muitos jovens lá vivem como parasitas nas costas dos pais, dependendo pra tudo.

Parabéns pelo teu esforço. Ótimo post!

Beijocas

Anônimo disse...

Gostei muito desse post. Além de ser realista sobre a vida na Holanda, e desfazendo o mito que existe da glamour, ele mostra o quanto perseverança e objetividade são importantes!

Seria muito interessante q vc continuasse essa linha ;)

Marcela