quinta-feira, 3 de julho de 2008

Enquanto isso,...

Daqui a 2 semanas eu deverei fazer uma viagem bate-e-volta à trabalho para a Inglaterra e na primeira semana de agosto, eu deverei ir para Turquia dar um treinamento lá.
Muitas dúvidas por que eu ainda não passei o do primeiro trimestre da gravidez. Aqui na Holanda eles desaconselham viagens durante esse período. Já no Brasil e em Portugal dizem que não há problema nenhum, a não ser, é claro, do enjôo que é normal nessa fase. Todos os países só “proíbem” viagens a partir da 36ª semana quando o bebê já pode nascer a qualquer hora.

Sendo assim, eu não sei se o “desaconselho” Holandês de viajar durante o primeiro trimestre é somente muita precaução, já que nessas horas eles tendem a ser bem cuidadosos. Na verdade, Holandeses são, na minha opinião, às vezes muito contraditórios. O cuidado no primeiro trimestre versus a preferência do parto em casa, mesmo que você corra o risco de ter que correr desesperadamente para um hospital em caso de complicações, pra mim, não segue a mesma linha de precaução.

Sem falar que no Brasil, assim que você descobre que está grávida, eles pedem para fazer um exame de urina e de sangue para ver se você não tem nenhuma infecção e para ver se você não tem falta de uma proteína ou baixo nível de ferro no sangue... Já aqui na Holanda, quando você liga pro médico ou parteira, eles marcam a sua primeira visita lá pela 10ª ou 12ª semana. A não ser, é claro, que você esteja na faixa dos 35 anos. Para grávidas nessa idade, os controles e acompanhamento médico durante a gravidez são mais restritos e há mais exames a serem feitos. Entre eles, por exemplo, o exame para saber a probabilidade de ter uma criança com a síndrome de Down.

Enfim, há muito o que se falar sobre as diferenças de tratamento, da cultura, da licença à maternidade e dos direitos definidos por lei.

Seguem aqui algumas informações que eu andei acumulando sobre as leis...

Na Holanda você pode entrar com licença à maternidade no máximo 6 semanas antes da data prevista do nascimento da criança e no mínimo 4 semanas antes. Mesmo que você esteja passando bem e queira continuar trabalhando no 8º mês, isso é proíbido por lei. E a empresa que permitir ou pedir para uma gestante continuar trabalhando nesse período corre o risco de receber uma multa do governo.

Depois do nascimento da criança, a mãe tem direito a 10 semanas seguidas de licença caso ela tenha saído de licença 6 semanas antes do parto. Se ela saiu com 4 semanas, ela terá direito à 12 semanas de licença após o parto.

A licença à maternidade não afetará o número de dias de férias que a empregada tem direito, assim como não afetará o 13º salário e bonus como estipulado no contrato.

Durante a licença a empregada recebe um “uitkering” (benefício) do UWV que corresponde a 100% do salário e é financiado pela empresa.
Depois da licença a maternidade, tanto o pai quanto a mãe tem direito ao “Ouderschapverlof” (Licença dos Pais). Para ter esse direito, os pais devem estar empregados pelo menos um ano na empresa e a(s) criança(s) deve(m) ser menor(es) de 8 anos. O direito dessa licença é calculada da seguinte maneira:

A carga horária semanal de trabalho estipulado no contrato x 13 semanas. Exemplo: 40 horas x 13 = 520 horas de licença (65 dias).

Esses dias de licença não são pagas. E assim que a licença acabar o empregado deverá voltar a exercer a carga horária completa, a não ser que, o empregado e a empresa cheguem a um outro acordo.
Na Holanda a maioria dos pais escolhem diminuir a carga horária, ou seja, trabalhar menos. Nesse caso, tanto o pai quanto a mãe passam a trabalhar 4 dias por semana e 3 dias por semana a criança vai para a creche. Para quem trabalha 5 dias por semana e decide passar a trabalhar 4, o salário diminui 20% do total.

Com os custos da creche e a diminuição das horas pagas de trabalho, a situação financeira do casal regride, mesmo que o governo e a empresa colaborem nos custos da creche.
A contruibuição da empresa, que passou a ser obrigatória desde janeiro de 2007, é na regra geral de 1/6. No caso em que ambos os pais trabalham, no total o casal deverá receber 33% dos custos da creche de volta. A contribuição da empresa é adquirida junto com o do governo e não diretamente da empresa. Do governo a contribuição é baseada no salário bruto anual do casal.

A tabela a seguir mostra as % válidas na ajuda de custo da creche do governo.




A primeira e a segunda coluna são as margens salariais. A 3ª coluna é a % de contribuição do governo para o primeiro filho, a segunda, no caso de um segundo filho. Reparem que quanto maior o salário, mais baixo é a contribuição do primeiro filho e maior é para o 2º filho. Isto é uma das formas que o governo escolheu para estimular o índice de natalidade, principalmente, entre os mais bem assalariados.

A percentagem de contribuição do governo deverá ser somada a percentagem de contribuição da empresa. Ou seja, se você recebe 33% da empresa e o casal tem junto uma renda salarial anual (bruto) de 50.000€. No total a contribuição será de 49,6% + 33% = 82,6% dos custos pagos.

O exemplo dado é baseado num salário modelo Holandês em 2008. Este está por volta dos 1.600€ neto por mês (bruto é +/- 2.700€ por mês – por volta de 33.000€ bruto por ano) para quem trabalha em tempo integral. A média salarial geral de um casal Holandês varia entre 50.000€ - 60.000€ bruto por ano.

Vale à pena ressaltar que quem pensa que este salário é de gente rica na Holanda, se engana. O imposto descontado do salário varia entre 1/3 do salário à 52%. E com o custo de vida alto na Holanda (principalmente o de habitação e de alimentação) quem vive nessa faixa salarial consegue viver bem, mas sem (grandes) luxos (como férias caras e várias vezes por ano, jantares fora, uma mega-tv, super-camera digital, etc...) ou então vivem com "luxos" moderados. Ainda mais, os casais que tem crianças.

No final das contas, hoje em dia na Holanda eu acho que já se tornou impossível de ter filhos e viver bem as custas de um único salário. Isso já deixou de ser opção há muito tempo, a não ser, é claro, que você ganhou na Staatsloterij (a Megasena Holandesa), mas aí, quem precisa ainda trabalhar, não é mesmo?...


Fonte das tabelas: www.kinderopvang.net

Um comentário:

Anônimo disse...

Olha, quando a gente está grávida, sempre tenta racionalizar e parece tão óbvio a opção pela creche. Mas depois que o bebê nasce e você tem aquele serzinho tão amado, dependendo de você tanto, mas tanto é que você pensa, como eu vou deixá-lo com 4 meses aos cuidados de alguém que vai ter sei lá quantos outros para cuidar.
Mas se você quer continuar racionalizando, eu recomendo o livro do Steve Biddulph, Raising Babies. Nele, não só ele avalia as opções de ficar com o bebê em casa, creche, babá, avós, como também ele explica como os bebês se desenvolvem. A parte do desenvolvimento cerebral (os bebês só nascem com 1/3 do cérebro) é a mais interessante.
Outro livro que também recomendo muito para grávidas é o Bésame Mucho, do dr. Carlos González. Tem uma comunidade no orkut desse livro e lá você pode fazer o download. É em espanhol. Boa sorte com a gravidez!
Eva