O post é grande! Sente e pegue seu drink, caso o assunto lhe interesse!...
Vou ser sincera. Eu gosto de estatística para ter uma idéia, formar uma opinião sobre o assunto de forma geral. No caso de gravidez e parto, ou até mesmo, saúde em geral, eu quero ter noção das chances, riscos e fatores do que pode acontecer. Porém, não sigo as estatísticas como certeza, por que eu já fui 'exceção' em várias situações. De forma que, a estatística geral não funcionou, mas serviu, pelo menos, como meio para eu aprender a relativizar os casos e não ser tão 'preto no branco'.
Além do mais, em se falando de números, ninguém gosta de ser tratada como um, não é mesmo?
Mas, para quem interessar possa e para quem tiver à procura de informações e probabilidades, deixa eu dividir aqui alguns números e fontes de informação aqui na Holanda sobre (um próximo) parto depois de uma cesária.
Fonte: NVOG - Nederlandse Vereniging voor Obstetrie & Gynaecologie. [Associação Holandesa de Obstetria e Ginecologia].
Documento: Zwangerschap_en_bevalling_na_een_voorgaande_sectio_caesarea[1] [Gravidez e parto depois de uma cesária]
Resumo & traduzido:
O número de cesárias na Holanda aumento de 7,4% em 1990 para 15,1% em 2007. ( A percentage de cesárias na Itália é de 22%, na Inglaterra, 21% e o Brasil tem a mais alta de todos os países 50%. Em algumas clínicas os partos são 100% cesárias). A Holanda é o país (Europeu)com o número mais baixo de cesárias. Mesmo assim, este número vem aumentando anualmente.
Devido a essa mudança, o número de mulheres com um parto cesária precendente está aumentando também e exigindo assim, um estudo maior das consequências em uma próxima gravidez e parto seguinte.
Os riscos de uma tentativa de um parto normal depois de uma primeira cesária (Trial of Labour - TOL), inclusive uma segunda cesária (não planejada) são medidos e comparados com os riscos de uma segunda cesária planejada (Electieve repeat sectio - ERCS]. Os riscos e chances são difíceis de serem determinados, por isso, as direções definidas nesse documento servem somente para ajudar no 'counseling'/conselho a uma paciente grávida com parto cesariana no histórico.
Contra-indicações para um TOL (Tentativa de um parto normal) e parto normal após uma cesária.
- Incisão vertical, 3 ou mais partos cesárias no histórico, ruptura de útero no histórico.
As chances de uma ruptura de útero de uma cesária de incisão vertical varia entre 2 à 9% dos casos.
A percentagem das outras contra-indicações não são conhecidas, mas devido o histórico, a decisão é de ter uma cesária planejada em caso de uma seguinte gravidez.
PS; Dependo da causa, caso haja um histórico de aborto (natural) ou curetagen, um parto normal pode ser contra-indicado! [No estudo não se explica os casos onde essa exceção se aplica...].
As chances de uma tentativa bem sucedida de um parto normal (em casos de bebês com peso acima de 4kg baixam de 74% --> 62%, sendo que o pêso de um bebê é difícil de ser constatado antes (da tentativa) do parto.
Fora esses casos, foi constatado que há um risco 2-3 maior de ocorrer uma ruptura de útero numa próxima gestação se intervalo de tempo entre uma gravidez com parto cesária e uma seguinte gestação for entre 12-24 mêses.
Tentativas de parto normal após cesária bem-sucedidas
Na Holanda, entre 2002 e 2003 foi feito um estudo com 4.596 mulheres que tiveram uma cesariana (ou mais) precedente. 72% desses casos tentaram o parto normal. Desses 72% , 76% terminaram em partos normais bem sucedidos. Já em outro estudo, o número baixou paral 54% dos casos.
Em outros estudos foi tentado fazer uma análise e prognóstico de quais são os casos de maior chance de sucesso de um parto normal após uma cesária e quais são os casos com maiores chances de uma segunda cesária.
Nisso foi concluído que: Um fator importante e positivo na chance de um parto normal após uma cesárria é já ter tido um parto normal no histórico (principalmente antes da cesariana).
Já os fatores menos ou não favoráveis e que acabam terminando em uma segunda cesária são:
Indução do parto (Inleiding em Holandês), nenhum parto normal no histórico, BMI >30 e uma cesária anterior devido a falta de progresso na dilatação (ou uma dilatação estagnada). Se todos esses fatores estão presentes numa próxima gestação a chance de ter um parto normal bem sucedido é de 40%.
Além desses fatores, há outros também que influenciam como: uma gestação >41 semanas, o pêso do bebê acima 4kg, idade da mãe ser mais avançada (acima da média), cesárias anteriores prematuras (por problemas médicos), período de uma gravidez e outra ser curto (<2 anos), altura da mãe (<1, 55m).
A conclusão dos resultados dos estudos é que não é possível indicar as chances de um parto normal bem sucedido para cada paciente, devido aos fatores. Eles servem, no entanto, para um bom acompanhamento e conselho ao paciente.
Risco de ruptura do útero:
Na literatura, o número de casos de ruptura são entre 0,2%-1,5%. Num estudo entre 2002-2003, o número de casos foram 15 entre 1000 TOL (tentativas de parto normal), sem o uso de medicamentos para o estimulo de contrações o número baixou para 8 casos em 1000 TOL. O número de morte natalina devido à ruptura do útero (uma das possíveis consequências) foi de 1,2 entre 1000. A chance de uma histerectomia (retirada do útero) devido a uma ruptura foi de 0,5 entre 1000.
Na prática, não há possibilidade de fazer uma previsão das chances de ruptura de útero por paciente. Em geral, os fatores que aumentam o risco de uma ruptura são os mesmos fatores não favoráveis a uma tentativa de parto normal.
Uso de medicamentos para indução de parto ou aumento de contrações num TOL
Em vários estudos foi comprovado que o uso desses medicamentos aumentam a chance de uma segunda cesária. Em mulheres sem parto normal no histórico a chance de uma segunda cesária após indução é de 38% contra 28% se o parto início naturalmente.
Na literatura em geral não foi comprovado, no entanto, que o uso específico de certo medicamento aumenta o risco de uma ruptura de útero.
Durante o parto
No início das contrações é necessário registrar o ritmo cardíaco do bebê através de um CTG (cardiograma). Anomalias no CTG, como bradicardia (ritmo cardíaco lento) persistente, é uma maneira de reconhecer uma possível ruptura do útero.
Anestesia através de uma peridural não é contra-indicada. (Ao contrário do que a minha parteira disse!!!).
Cesária Planejada
Nenhum tipo de parto (normal ou cesária) após uma cesária não é sem riscos. Uma cicatriz no útero fica um ponto fraco e fator de risco. Os riscos aumentam com o número de cesárias no histórico. Além de problemas com a placenta (caso haja histórico), tem outros tipos de riscos como danos na bexiga (risco de perfuração), intestino, histerectomia, perda extrema de sangue requisitando assim transfusão, longa duração da operação e internamento hospitalar. Além disso, a maior risco de hematomas, infecção, trombose, complicações com anestesia e altos custos. (Pausa: Claaaro que esse não podia faltar na lista de Holandês e seguro de saúde, nénão? E eu pago 1.200€ por ano em seguro de saúde pra quê, sem quase nunca estar doente?)
Resultado sobre a natalidade
De acordo com um estudo Americano, em caso de parto normal após uma cesária a chance de mortalidade infantil é de 4 entre 10.000 partos, enquanto de numa cesária planejada a chance é de 1,4 em 10.000. No caso de ‘hypoxia’ (falta de oxigênio) num parto normal é de 0,08% (7,8 em 10.000). Metade desses casos são proveniente de uma ruptura do útero.
O caso de morte infantil em casos de ruptura de útero é mais alta que a taxa normal de mortalidade infantil. 12 em 10.000.
O risco de problemas respiratórios em uma cesária planejada é maior e dependente da duração da gestação. Por isso, em uma cesária planejada é aconselhado fazer a partir da 39ª semana, no qual o risco diminui de 8% (entre as semanas 37 e 38) para 5,5% entre a semana 38 e 39, para 3,4% depois da semana 39.
Counseling
Mulheres com uma cesária no histórico e sem complicações na atual gestação e sem contra-indicação para um parto normal devem ser informadas sobre as diferenças de parto.
Os riscos de uma tentativa de parto normal (TOL), inclusive as chances de uma próxima cesária e de uma cesária planejada devem ser medidos e verificados de acordo com a situação do paciente.
Além disso, deve ser conversado com o paciente o desejo de ter mais filhos. Já que quanto maior o número de cesárias, maior o número de riscos.
A definição do termo “couseling” é que ambas as opções de parto (normal ou cesária) estão abertas na conversa. No entanto, medo de parto normal normal é visto como uma razão errada para ser ter uma cesária, do qual também incluí vários riscos.
Compromissos/acordos entre médico e paciente devem ser feitos de forma clara a fim de limitar os medos do paciente. A decisão e compromissos devem ser documentados e de preferência antes da semana 37 da gestação.
Os seguintes riscos devem ser medidos e conversados:
- Chance de um parto normal em tentativas é de 72%-75%.
- Chance de ruptura de útero é 0.5 -1,5% (em contrações normais/naturais).
- Maior chance de ruptura de útero após uso de medicamentos para estimular contrações/ indução.
- Os riscos e benefícios de uma cesária.
- Se informar sobre desejo de mais filhos e levar isso em consideração na decisão do tipo de parto.
- Chances de placenta preavia e/ou accreta em outras gestações no caso de parto planejado.
- Decisão do que fazer caso a paciente tenha início de parto antes da data da cesária planejada.
Bem, agora que eu botei todo esse monte de informação aqui, na próxima vez eu coloco detalhes do meu novo plano de parto (geboorteplan) e vai ficar mais fácil entender as minhas escolhas. Também espero que ajude outras Brasileiras na mesma situação aqui na Holanda a tomarem suas decisões, além de que essas informações devem facilitar uma conversa com o(a) médico(a) sobre o seu parto.
Afinal de contas, uma pessoa bem informada vale por duas, não é mesmo? ;)
Um comentário:
Obrigada Holandesa,
adorei as informações e já salvei aqui no computador para conversar com a minha obstetra na próxima consulta.
bjs
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